quarta-feira, 28 de maio de 2008

Gaiola
Há as feitas com ferro e cadeados.Mas as mais sutis são feitas com desejos.Esquisito o que vou dizer: a alma é uma biblioteca.Nela se encontram as estórias que amamos.Romeu e Julieta, Abelardo e Heloisa, Luiz e Ivani,O paciente inglês, As pontes do Madison, Amor nostempos do cólera, A menina e o pássaro encantado.As estórias que amamos revelam a formado nosso desejo.Delas, escolhemos uma.É a nossa gaiola. Gaiola na mão, saímos pelavida à procura do nosso pássaro.Quando imaginamos havê-lo encontrado...que felicidade! Ficará feliz em nossa gaiola. Será o amante da nossa estória de amor: eu para você, você para mim... Nós o colocamos lá dentroe pedimos que nos cante canções de amor.Acontece que o pássaro também tinha asua estória.E era outra. Todo pássaro deseja voar.Ele bate suas asas contra as grades, suaspenas perdem as cores e o seu canto setransforma em choro.E, de repente, ele se transformaNão mais o reconhecemos.É um outro. Essa é a razão por que a dor da paixãosatisfeita é muito maior.Contada assim, a estória parece ter um vilão e uma vítima.A verdade é que os dois são vilões,os dois são vítimas.O desejo da gente é sempre engaiolar o outroe levá-lo pelos caminhos que são nossos. Isso vale para tudo: marido-mulher, pai-filha, mãe-filho,patrão-empregado, professor-aluno...Não admira que Sartre tenha dito que:“o inferno é o outro”Não haverá uma saída.Lembro-me de um pequeno poema de Pearls quesugere a possibilidade de uma relação sem gaiolas:Eu sou eu.Você é você.Eu não estou neste mundo para atender às suas expectativas.E você não está neste mundo para atender às minhas expectativas.Eu faço a minha coisa.Você faz a sua.E quando nos encontramos.É muito bom.

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